Cheguei no Porto faz pouco tempo, e fiquei impressionado com o Velho Mundo. Aqui tem igrejas milenares, artes em azulejos intactas e lugares como a Estação São Bento ainda em funcionamento. Mas não é só de grandes monumentos que esta cidade é feita. Existem outros lugares históricos não tão conhecidos, como o que eu quero contar aqui nesse post.
Bom, para quem não me conhece ainda, me chamo Thiago Augusto e sou o novo colaborador do Maracujá Roxo e escreverei principalmente sobre arte, cultura e história no Porto. Sou designer gráfico e cheguei aqui para fazer mestrado em Design de Comunicação na ESAD. Por sinal, quem aí já leu o post do Tinho sobre como fazer a candidatura por lá?
Aproveitei os meus primeiros dias para conhecer um pouco da cidade e fiquei encantado! Me apaixonei não somente com as francesinhas, as caves ou a Foz do Rio Douro. Fiquei fascinado também com a arquitetura ainda muito preservada e sua história. O mais legal daqui é ver como as ruas guardam as memórias. Aquela passagem estreita e pouco conhecida onde você anda sem se perceber, pode ter sido palco de um grande acontecimento. No Porto, os prédios são como livros antigos, ficam ali à espera de serem lidos quando se habita o lugar.
Reprodução | Porto
Um deles fica ali na Rua do Almada e fala sobre os altos e baixos do cinema português. É o Cinema Trindade, um espaço inaugurado há mais de 100 anos e que, depois de ter sido fechado três vezes, foi reerguido há dois anos atrás preservando a estrutura do espaço antigo. Visitei o lugar recentemente para assistir ao filme Dor e Glória, de Pedro Almodóvar, e valeu muito a pena minha experiência por lá – que é bem diferente de outros cinemas que você pode encontrar por aqui. Pra começar, não tem trailer antes da exibição dos filmes, e também não tem aquele intervalo que é comum em muitas sessões aqui em Portugal.
A história do Cinema Trindade
Algum tempo atrás, o Salão Jardim da Trindade, como era chamado antes, foi cenário de festas e eventos. Inaugurado em 1913, o espaço incluía salão de festas, bilhares, salas de espetáculo com cinema, um café e um terraço. Foi em 1957 que o local passou por uma remodelação, resultando no Cinema Trindade. Na década de 1980, uma nova transformação ocorre, e então o grande salão de antes deu espaço para um Bingo e mais duas salas de cinema menores. Apesar das mudanças que buscavam movimentar o ambiente, nos anos 2000, o Cinema Trindade não resistiu ao momento de abandono que o centro histórico do Porto sofreu, e então fechou as portas. Foi só alguns anos atrás, em 2017, que o local reabriu novamente suas atividades.
Hoje, o espaço se destaca mais no contexto alternativo e independente. Pra mim, é exatamente esse o brilho do Cinema Trindade. Ele foge do exagero, busca autenticidade. Se você for como eu, que não quer nada além de assistir um bom filme, num espaçozinho bem aconchegante e com poucas pessoas, o Cinema Trindade é o seu lugar. Já que ele só tem quatro sessões diárias em cada uma das salas, é preciso selecionar bem o que é apresentado ali. Por isso, o cinema leva a sério a curadoria, privilegia os filmes de autor, mas não deixa de selecionar o melhor da grande cena de Hollywood. Além de tudo, é bem comum acontecerem sessões exclusivas com um bate-papo depois do filme, como aconteceu recentemente na programação do Festival MEXE. Nada melhor do que assistir um filme cabeça e ter gente para discutir depois que a sessão terminar.
Cartão Tripass: para os amantes de cinema
Em questão de preço, o cinema não se diferencia muito. É um pouco abaixo do padrão, custando 6€ uma sessão. Mas quando eu fui, já aproveitei e fiz o meu cartão Tripass – compensa muito pra quem gosta de cinema. O cartão custa 10€ e já te dá a primeira entrada. A partir daí, você tem desconto de 25% nos próximos ingressos que comprar, ou seja, ele sai por apenas 4,50€.
O cartão é válido tanto para o Cinema Trindade, quanto para outros dois cinemas independentes de Porto: o Passos Manuel e o Rivoli do Campo Alegre. Depois de comprar o cartão, dei meu e-mail à eles, onde recebo as programações da semana, para não perder as novidades. Além disso, aproveito o site Agenda do Cinema Independente e não fico de fora de nenhum evento cinematográfico da cidade.
O Tripass tem validade de um ano e sua compra começa a compensar a partir da quarta sessão – fiz as contas antes de comprar. Por isso, se você for fã desse estilo de cinema e acha que vai querer voltar ali mais de quatro vezes, já compre logo em sua primeira sessão.
Se não estiver afim de comprá-lo, recomendo ainda assim uma visita ao lugar, vai ser uma experiência diferente de qualquer outro cinema que você com certeza não vai se arrepender. Mas já deixo avisado, nas salas não se entra com comida. Foi a única coisa que eu fiquei meio assim com o lugar. Então, não vá que nem eu, esperando uma sessão de filme com aquela pipoquinha amanteigada. Lá só tem uma máquina de café da Nespresso para você tomar antes da sessão começar.