Como prometido, o nosso papo segue. Vou compartilhar com vocês um pouco da minha experiência sobre gestar aqui na Holanda, mais especificamente em Amsterdam. Como eu sempre estive envolvida nesse meio, eu sempre li muito sobre o assunto e acompanhava mulheres que passaram por essa experiência por aqui. Não que minha intenção na época fosse gestar aqui ou planejar uma gestação por aqui (não eram os planos atuais e sim beeem futuros), tudo sempre foi por causa da minha curiosidade mesmo.

O mundo da maternagem, identidade infantil, memória (e por aí vai…) sempre esteve presente na minha vida. Minha formação acadêmica já fala muito sobre isso, mas para além dessa formação, meus gostos pessoais sempre tendiam ao assunto. O fato é que, me redescobri nesse meio quando o positivo veio! Agora, de verdade, eu estava mais envolvida do que poderia imaginar.

Dividi este papo em 3 posts, os famosos trimestres gestacionais. Para quem ainda tem dúvidas, a gestação é “dividida” em três fases: 1º, 2º e 3º trimestres. Assim, vai ficar mais fácil te contar um pouco de como foi/está sendo minha experiência por aqui. Bora?

1º trimestre (1ª à 13ª semana)

E que venham os 3 primeiros meses! YES, I CAN! Aqui na Holanda o 1º trimestre já começa “causando” entre as expatriadas (mulheres que não nasceram aqui). Sabem o por quê? O primeiro motivo é que você confirma se está grávida apenas com um exame de farmácia. Sim, sem Beta HCG amores. SEM. Isso pra mim nunca foi um problema, bem pelo contrário, eu já sabia disso e achava tri de boa mesmo. Mas conheci muitas mulheres que não acreditavam que isso poderia existir: “afinal, como vou ter certeza?”.

É por isso que precisamos lembrar de uma coisa bem importante: quando estamos morando em um país que não é o nosso, a gente precisa imergir nele. Conhecer os costumes, entender como funciona o método de vida, saber o que é natural ou não para os locais. Eu posso não concordar com tudo ou quase tudo o que eles fazem, mas eu preciso entender e buscar sentir se aquilo faz ou não sentido para mim. Do modo contrário, vou ser aquela pessoa que vive reclamando e que reproduz o senso comum. Chega né? É hora de fazer/ser mais realista.

Mas voltando ao assunto, por aqui o único exame que te dá essa confirmação é o exame de farmácia. Bom, eles não são caros e você tem opções que vão desde os testes mais simples, os de fitinha, como os testes digitais que já indicam a possível semana de gestação. Normalmente cada caixinha já vem com dois testes (pra tirar a prova dos 9 mesmo). O próximo passo é ir ao médico (seu GP), mas calma, você não vai lá para pedir exames, você vai lá para pedir indicações. Pode parecer estranho mas eu explico.

Diante do seu positivo, você precisa entrar em contato com a equipe que vai te acompanhar durante sua gestação, sua equipe de midwives. São elas quem vão te acompanhar fazendo o seu pré-natal e que estarão com você até o momento do parto. Mas para chegar até uma equipe, uma vez que você não conhece nada, você pode sim marcar uma consulta com o seu médico de família e pedir indicação. Mas olha, não espere mais do que isso, ele não vai te pedir exame nenhum e se você disser que está gravida, esperando essa reação, a reação será: Parabéns! Só isso. Não é frieza, falta de amor ou comapaixão, tá? É apenas um profissional fazendo o que cabe a ele, se retirando para que outros profissionais especializados possam te acompanhar.

Quando eu fui ao meu médico de família (meu GP) eu pedi indicações de midwives, porque eu não conhecia nenhuma aqui e não sabia se precisaria que fosse alguma “clínica” perto da minha casa. Ele prontamente me deu 3 indicações e, dentre elas, destacou uma que seria muito prática por ser muito perto da minha casa. E foi assim que eu conheci o “fantástico mundo das midwives”!

Mas o que é uma Midwife (verloskundige)?

Aqui na Holanda, é a profissonal formada em obstetricia, ou seja, uma obstetriz que vai te acompanhar desde o comecinho da gestação até o seu parto. Mas o nome mesmo significa parteira e eu comprei o significado desde sempre. Midwife é parteira, tá? Falando nisso, eu já vou te indicar uma série MARA, que eu já assistia muito antes de estar grávida. Tá lá no Netflix, a série se chama “Call the Midwife” ou “Chamem a parteira”. Depende do país que você está ela pode mudar de nome. Vai lá, assiste e depois me conta, tenho certeza que você vai gostar!!

E foi assim que eu encontrei o meu grupo de midwives. Mas como assim, grupo, Cibele?

Bom, aqui na Holanda é bem comum que elas sejam mais de uma. O grupo é geralmente composto por 4 (mas pode ter mais ou menos). Isso faz com que em todas as suas consultas, você encontre uma midwife diferente, mas ao mesmo tempo, TODAS elas sabem o seu histórico. Assim, na hora do parto, você pode encontrar qualquer uma, tudo vai depender de quem vai estar de plantão no período.

Então o 1º trimestre é pautado em espera. Sim, espera. Você vai buscar um grupo de midwives, entrar em contato com elas e marcar sua primeira consulta. Provavelmente ela vai ser entre a 7ª e 9ª semana (ou antes, tudo depende do protocolo de cada grupo). E vai ser aí que você vai descobrir que não há NADA para fazer até a 13ª semana, o fim do 3º trimestre. Esse é outro choque de realidade por aqui, normalmente as mulheres brasileiras estão acostumadas com o sistema de lá, onde logo no 1º trimestre você já faz uma bateria de exames e se cerca de “certezas” que vão te confortar ou não durante a gestação. Aqui, na Holanda, a gestação é vista de fato como uma gestação, após o 3º trimestre.

Mas como assim? É porque existem muitos fatores que podem fazer com que o embrião não se desenvolva e possa ocorrer um aborto espontâneo, por exemplo. Então este tempo é o tempo de espera. Claro que, você vai estar sendo acompanhada mas não vai ser nada sufocante ou mesmo com rigidez. Entende? Não há como prever o que o seu corpo vai exercer. Há possibilidade de fazer alguns exames, sim, mas sem paranóias.

Como é a primeira consulta?

Na primeira consulta você vai fazer a sua ficha, cadastrando o seu histórico familiar e falar um pouco sobre o sistema aqui. O seu primeira ultrassom vai ser marcado para o finzinho do 1º trimestre, lá pelas semanas 10,11,12 ou 13. Tudo vai depender de como funciona o seu grupo de midwives. Você vai conversar um pouco sobre a sua ideia de parto e descobrir que por aqui, na Holanda, cesariana é a última opção. Você também vai conversar sobre aborto, por aqui ele é legalizado até a 22ª semana. Mas isso é outro papo e se você quiser saber mais fale diretamente com sua midwife, ok?!

Caso você tenha algum histórico que precise de um acompanhamento mais específico, será direcionada ao profissional responsável, um ginecologista. Se esse for o caso, você terá o acompanhamento todo feito por ele e provavelmente vai ter um parto hospitalar. É aqui que você vai ser apresentada as opções para o parto, mas sem pressões:

• parto domiciliar;
• em casas de parto;
• hospitalar.

Vamos conversar mais sobre isso em outro post. Por enquanto o nosso 1º trimestre vai sendo assim, sem muitas expectativas, apenas informações. É na primeira consulta que você vai ganhar os caderninhos de acompanhamento gestacional e de amamentação. Assim, com doses homeopáticas, você vai se familiarizando com tudo.

Aqui em Amsterdam temos a possibilidade de receber os livros em inglês.

A forma natural como é conduzida a gestação na Holanda é, na minha opinião, o que mais me confortou diante da espera. Não ter pressão para correr e fazer exames, criar paranóias na cabeça e alimentá-las, conversar e conversar mais e mais sobre fatos e não suposições, tudo isso me deixou muito segura e espero que te deixe também se você estiver passando por essa etapa morando aqui.

É dificil esperar por algo que não conhecemos, né? Pois é, mas aí vem a primeira lição: paciência…