Ao invés de uma lista que te fale sobre as vantagens e desvantagens de viajar sozinha ou simplesmente te dizer “o quão legal é e todo mundo deveria fazer”. Vai ter lista, mas, para já, eu vim trazer as minhas impressões desta decisão que tomei e o que ela mudou na minha vida. Acredito que assim e ao longo do texto, a gente consiga pensar em conclusões e talvez isso possa até te inspirar a algo.
Nestes últimos dias estive pensando bastante sobre o conteúdo da minha viagem e o tanto que ela significou para mim. Aí encontrei outras mulheres fantásticas que estavam falando sobre a mesma temática que eu pretendia abordar e pronto, foi como juntar fogo e gasolina para incendiar tudo aqui dentro. Vamos lá, então?
A vida tem dessas né. De repente tudo está certo, você está com a viagem marcada com alguém que é bem próximo(a), mas desventuras acabam por acontecer e você acaba tendo que mudar os seus planos. Aí você reclama, sofre bastante e sente que o perde o chão. CALMA, GAROTA(O), será que nos últimos tempos você não percebeu que o Universo parece mais conspirar ao seu favor do que contra? Se não deu certo, é porque era melhor para você assim. Mas calma, se tu não acredita no que eu tô dizendo, espera e confia que eu sei que você vai perceber mais pra frente 🙂
Imagine-se nessa situação que eu disse: você está com as passagens compradas (de avião e transporte terrestre) e alojamento decidido e pago. Eis que a pessoa que ia com você não vai mais poder ir. O que você faz? Começa o duelo do anjinho e diabinho na cabeça. Suas inseguranças todas afloram e você pensa em desistir, né? Pois é, isso normalmente aconteceria comigo também, mas, por alguma razão que a gente não questiona (mas agradece muitão), acabou por não ser. E, por me sentir segura o suficiente, decidi: vou viajar sozinha.
“Mas como vou falar para a minha família? Como vou lidar com as minhas ansiedades e inseguranças? Viajar sozinha não é perigoso? Nossa, eu sou tão avoada que vou me perder…”: bombardeamento de questões e pensamentos negativos logo tomam conta, porque né, eu não sou aquela mulher super fantástica que eu vejo outras serem e que tanto almejo ser… NÉ? (quem nunca pensou assim que atire a primeira pedra)
Afinal de contas, lá estava eu, almejando essa viagem que significava tanto para mim e que, para além de significar muito e ter vários lugares que sabia que foram muito bem escolhidos a dedo, estava marcando o fim do mestrado, a entrega da dissertação e o fim de um período que me desgastou tanto mentalmente e emocionalmente. Por sorte, neste mesmo momento, tive que passar por algumas situações que me fortaleceram e me fizeram crer em mim mesma e na força da minha própria companhia. Amigos e amigas, é aquela coisa que a vida vem nos lembrar muitas vezes: a única coisa que nós temos somos nós mesmos, sabe? Somos seres individuais.
1. Planeje-se, mas desapegue
As pessoas mais próximas de mim sabem o quanto eu gosto de planejar viagens, proporcionar bons momentos para as pessoas (no caso de ser um roteirinho do Porto) ou de dar as dicas que sei para que elas possam conhecer mais e melhor a cidade – tal como faço aqui, no Facebook e nos stories do Instagram. Desta vez, por ter sido pega de surpresa e por ter sido uma viagem no fim de um período tão conturbado, decidi criar um mapa personalizado no google maps e fui pesquisando todos os locais que eu queria visitar (isso, por si só, já é uma boa dica). Mas claro que mesmo anotando os locais no mapa, permitir-se flanar ou caminhar sem destino é algo que poucos turistas se dão ao luxo de fazer. Se você for para um país que não conhece o idioma, anote e tenha noção de palavras básicas do destino em que vai e treine algumas frases.
2. Você vai sozinha, mas não está sozinha nunca
É engraçado esse sentimento que nos bate de agoniazinha quando pensamos em estar sozinha, né? É necessário que você faça pequenos exercícios antes de viajar que comecem a te dar a força que você precisa para acreditar nisso tudo que está acontecendo contigo. Você vai viajar sozinha, mas nunca está sozinha: existem vários aplicativos que te permitem encontrar pessoas locais que podem te mostrar a cidade, te abrigar na casa deles ou até mesmo só conversar com você virtualmente. Use a tecnologia ao seu favor! E, caso você não tenha tecnologia… ei, lembra que o ser humano já viveu sem isso durante algum tempo? Pois é… você consegue! Puxe conversa com alguém no bar, no restaurante, pergunte sobre a redondeza, sobre um local para fazer X, tomar um café ou comer aquele prato local. As pessoas são pessoas em qualquer lugar do mundo e elas vão gostar de te mostrar um pedaço da cidade, assim como tenho certeza que você gostaria de fazer por outro. Outra dica muito boa: hospede-se em um hostel. Lá as pessoas vêm de vários locais diferentes e pode ser que surjam muitas amizades ou companhias para programações 🙂
3. Sua viagem, suas regras
Tem coisa melhor do que não ter que conciliar os seus desejos ou agendas com o de amigos, parentes ou date? E se você quer comer salada porque está desarranjada e o teu/tua acompanhante quer comer um pratão de massa, mas no mesmo restaurante não tem as duas coisas? Pronto, basta isso para começar uma mini chateação. Ou então você quer continuar por mais um local turístico antes de parar para almoçar porque não está com fome, mas a pessoa quer porque precisa também ir ao banheiro. Pronto. Aí imagina você tendo que negociar todos os passos do dia seguinte durante duas semanas – caso o seu mochilão tenha esse tempo. Ok, pode ser que tenha parecido que eu tracei uma imagem super complicada de uma viagem e que nem tenha algum conflito do gênero, mas sabe… ir sozinha é 100% de garantia de não conflito. Pelo menos externo. haha
4. Menos é mais
Esse é o meu lema e acredito que o de muitos mochileiros. Eu sou uma pessoa que, a cada viagem que faz, leva menos coisas. Descobre que precisa de menos. Volto com roupas que nem usei. Viajo há algum tempo já com uma só mochila (das normais, sem ser das de mochileiro profissa) e descobri que isso é mais do que o suficiente. Isso te traz facilidades para transportar, para caminhar nos locais, para deixar em algum lado, caso precise, ou até para carregar contigo caso seja necessário. E também exercita ao desapego e ao minimalismo. Você não precisa de todos aqueles pares de sapato e todos aqueles conjuntos de roupas, né. Sei lá, tenta, na próxima viagem, pensar bem se você precisa mesmo daquilo ou se é uma necessidade que você tá criando e que não faz tanto sentido.
5. Administre o seu dinheiro
Se você administrou o seu dinheiro até agora para chegar até aqui, presume-se que você tenha uma certa quantia de dinheiro guardadinha para usar também na viagem, né? Então, administra isso aí. Abre uma nota no bloco de notas do celular, baixa um app que seja de gestão de dinheiro ou então que tal usar aquele velho e bom caderninho para anotar sobre isso tudo? Anote os gastos, os dias, e vai fazendo o controle do seu melhor jeitinho. Isso é algo realmente importante quando estamos falando de viagem, porque para perdermos o toque e metermos o pé na jaca é daqui para ali.
6. Ch-ch-ch-changes
A gente viaja para conhecer o mundo ou para o mundo conhecer a gente? Já perguntava João Doerdelen (@akapoeta). Eu complemento ainda: “ou para a gente conhecer a gente?” Ainda que o mundo nos conheça, acho que a experiência de viajar sozinha é realmente transformadora. Agora que fui, posso falar com propriedade. Para além de você conviver consigo 24h, você passa boa parte delas tendo provas da vida em que você desafia os seus medos, precisa adotar posicionamentos e responder questões em um idioma que achava nem dominar. Você aprende todos os dias, reduz os seus medos e ansiedades e você, nesse processo, se reconstrói – às vezes mais de uma vez por dia. Tem coisa mais linda do que isso?
7. Você merece
Eita, acho que esse é o ponto mais difícil de entender, né? Como assim, eu mereço? Sim, você merece! Essa experiência é tão intensa e tão desafiadora que, eu te garanto: é impossível você voltar igual – “ou garantimos o seu dinheiro de volta!”. Brincadeirinha. Em vários momentos, você vai estar bem confiante, mas em outros, pode bater um leve pânico e aí é bem importante que você tenha um suporte, sejam amigas/parceiro/família, para que você possa dar o seu ataque de pelanca e esse porto seguro te ajude a lembrar o quão importante isso é para você. Sei muito bem que, na maioria das vezes, a sua família vai achar esquisito isso, mas com certeza você conhece alguém que vai te dar um apoio. Se não achar, manda mensagem pra mim, porque aí já achou! haha
8. Todo mundo deve viajar sozinha uma vez na vida (pelo menos)
Se você é como eu e já viajou sozinha, eita, eu tenho certeza que você deve ter voltado com aquela sensação de “ei, acho que não viajo mais com ninguém. De agora em diante, vou me levar para passear”. Eu voltei assim. Percebi que sou mais ágil, que não tenho vergonha de perguntar para as pessoas, que gostei da minha companhia, comecei a aceitar alguns “erros” meus, parei em alguns momentos para perceber que a viagem – assim como a vida – não precisa ter tempo exato dedicado e esquematizado para ir se desenrolando, sabe? E isso que é mágico. Depois que acontecem os pepinos na viagem – porque eles existirão em algum nível -, você percebe o quão grata por eles você é. Você aprende a ser mais gentil consigo mesma e tantas outras coisas que só quem já fez, sabe colocar em palavras.