Você já deve conhecer a nossa série As escolas pelo mundo, mas, se não conhece, clica aqui e dá uma conferida em um dos posts da série.
Assim que cheguei em Portugal eu concretizei mais um dos meus sonhos: conhecer a Escola da Ponte. Junto de amigos muito queridos, em um dia de muita chuva e vento, típico do outono/inverno português, rumamos ao nosso destino. Vou contar para vocês as minhas impressões.
A Escola da Ponte
É uma instituição pública que nasceu no ano de 1976, a partir do sonho de um educador português muito conhecido no meio da educação e fora dela também: José Pacheco. O educador coordenou a escola em Portugal durante muitos anos, mas agora trabalha em parceria com outros projetos, que estão caminhando com tanta força como a Escola da Ponte, só que lá no Brasil.
A Escola nasceu a partir de um projeto, ou seja, ela em seu todo é um grande projeto chamado, Fazer a Ponte. No princípio, o prédio da Escola fora pensado especificamente para atender as necessidades do projeto. Não haviam paredes que dividiam as salas e todo o ambiente havia sido preparado para atender especialmente a ideia da autonomia do aluno. A Escola cresceu e o espaço foi ficando pequeno. Desde o ano letivo de 2012/2013, a Escola da Ponte já não funciona mais nas antigas habitações, em Vila da Aves. Atualmente, a Escola partilha o espaço com a Escola Básica de S. Tomé de Negrelos, pertencente ao Agrupamento de Escolas D. Afonso Henriques. A Escola da Ponte utiliza um dos pavilhões do complexo. Essa informação pode complementar muito as suas impressões sobre o lugar e o sistema que se vivência hoje.
O projeto Fazer a Ponte não segue um sistema baseado em série ou ciclos. Os professores não são responsáveis por uma disciplina ou por uma turma em específico. As crianças e os adolescentes que lá estudam são os que definem quais são suas áreas de interesse e desenvolvem projetos de pesquisa, tanto em grupo como individuais. Os pais participam do cotidiano dos seus filhos através de assembleias e ações promovidas pela Escola. O projeto tem três grandes valores: a liberdade, a responsabilidade e a solidariedade. É por isso que você deve conhecer a Escola da Ponte pela palavra autonomia. Essa sempre foi a proposta da Escola.
Como é a visita?
Ao chegar na Escola, você e todas as outras pessoas que lá estão para fazer a visita, são divididos em 2 ou no máximo 3 grupos. Cada grupo é recepcionado e guiado por um aluno da Escola (às vezes podem ser 2, depende do momento). No nosso caso, foram duas meninas muito fofas! Cada visita, um aluno diferente e uma nova experiência. Depois de separados em grupos, o aluno é quem te mostra como funciona a Escola. Você faz um passeio pelas dependências do prédio (aqui é hora de lembrar que o projeto inicial não foi pensado assim mas as forças das circunstâncias levaram a esta estrutura física), você percorre atentamente cada cantinho e deve ouvir com muito carinho o que cada aluno fala. Há o espaço das perguntas, enquanto você faz a visita pode ir perguntando o que tiver dúvidas. Não existe, eles sabem MUITO e vão te deixar de boca aberta. Foi o que aconteceu conosco. Eles sabem muito bem o que vivenciam! E atenção, NÃO tire fotos. Não pode. Não pode e ponto! Dependendo de como for a sua visita, você pode esperar até a parte da tarde, horário que normalmente ocorrem as assembleias, um espaço de debate e conversa sobre o que pode ser melhorado e como o projeto está sendo desenvolvido.
Como chegar?
Existem algumas maneiras bem fáceis de você visitar a Escola da Ponte, vamos indicar algumas possibilidades por aqui.
– Indo sozinho: Você precisa entrar em contato através do e-mail da escola solicitando um dia para sua visita, quantas pessoas e horário. Saindo do Porto, você pega um comboio (trem) em direção a Guimarães, a estação que você deve parar é Vila das Aves e o bilhete custa 2,55. Assim que descer na estação, prepare as pernas porque a subida é loooonga!
– Indo com grandes grupos: Você pode entrar em contato com algumas pessoas que fazem a visita à Escola da Ponte com grandes grupos. Esse passeio tem um custo e depende de cada agenciador. Mas aqui você tem o link de vários grupos de Facebook que podem te ajudar nessa pesquisa.
O que eu achei?
Eu sou utópica, tenho na veia o sangue sonhador…acho o projeto lindo, senti falta de ver a VERDADEIRA Escola da Ponte (edificação) mas eu entendo e compreendo muito bem que são tempos difíceis no mundo, Portugal não está distante disso. O projeto sempre foi visto com olhos tortos pelo país, não falo aqui das pessoas mas de um sistema de ensino. Algumas coisas me deixaram muito feliz, outras tantas me fizeram refletir sobre os ciclos que se fecham e que permitem novos posicionamentos. Eu gostei muito de fazer a visita e recomendo que todos possam fazer o mesmo. Mas vejam com os olhos da alma, saibam separar as coisas e não entrem no senso comum. Achem bom ou ruim, escutem e olhem bem antes de terem suas opiniões formadas!
“…Gente de boa memória jamais entenderá aquela escola. Para entender é preciso esquecer quase tudo o que sabemos. A sabedoria precisa de esquecimento. Esquecer é livrar-se dos jeitos de ser que se sedimentaram em nós, e que nos levam a crer que as coisas têm de ser to jeito que são. Não. Não é preciso que as coisas continuem a ser do jeito como sempre foram…” (Rubem Alves, p.51)
Assiste aqui um vídeo onde Rubem Alves fala sobre a Escola da Ponte
Quer saber mais um pouco?
Livro: A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir, Rubem Alves, 120 págs., Ed. Papirus
